Pesquisa sobre o etanol e a redução da poluição

Da Assessoria de Comunicação do Instituto de Física da USP:

Uso de etanol em veículos reduz a emissão de nanopartículas em São Paulo

Escolha do combustível afeta a emissão de partículas menores que 50 nanômetros de diâmetro e causa problemas pulmonares e cardiorespiratórios

Estudo publicado na revista Nature Communications no dia 17 de julho mostrou que existe uma correlação entre a escolha do combustível veicular (etanol ou gasolina) e o número de nanopartículas no ar de São Paulo. Os pesquisadores chegaram a essa conclusão após medirem a concentração de partículas menores que 50 nanômetros de diâmetro, na cidade de São Paulo, e constatarem um aumento de 30% das concentrações dessas nanopartículas em função do uso da gasolina em vez de etanol em veículos do tipo flex.

De acordo com o estudo, a opção pela gasolina se deu em razão da alta do preço do etanol. O problema é que essas nanopartículas menores que 50 nanômetros penetram facilmente nos alvéolos pulmonares, causando problemas respiratórios e cardiovasculares. “Os milhões de motoristas em São Paulo usam gasolina ou etanol de acordo com o preço. Nosso estudo mostrou que quando se usa mais etanol do que gasolina temos menos nanopartículas”, diz o professor Paulo Artaxo, do Instituto de Física da USP e um dos autores.

O economista brasileiro Alberto Salvo, pesquisador da Universidade Nacional de Singapura, liderou o estudo, que contou ainda com um químico da Universidade Northwestern, nos Estados Unidos, além dos físicos da USP. A partir dos resultados obtidos na estação do Instituto de Física na Cidade Universitária, coletados pelo grupo de Artaxo, a equipe multidisciplinar utilizou modelos estatísticos de econometria levando em conta tráfego, comportamento do consumidor, tamanho de partícula e dados meteorológicos de janeiro a maio de 2011.

“Estes dados foram estudados antes, durante e depois de uma flutuação forte no preço de etanol, que ocasionou uma troca de combustíveis consumidos em São Paulo”, ressaltou Artaxo, acrescentando que órgãos ambientais, como Cetesb e Conama, não regulam ou medem essas partículas muito pequenas. “Mas trabalhos recentes mostram que as nanopartículas têm um forte efeito negativo na saúde humana, o que confere mais uma vantagem no uso de etanol na redução da poluição do ar”.

Franz Geiger, químico da Northwest University, também coautor do estudo, salienta que o uso de biocombustíveis é agora uma questão global, sobretudo depois que Europa e Estados Unidos adotaram uso de biocombustíveis em larga escala. “A opção por veículos elétricos ou movidos a biocombustíveis nas cidades pode resultar na redução desta partículas ultrafinas”, complementa Salvo.

Para ele, São Paulo é um “laboratório do mundo real para estudo do comportamento humano na bomba de combustíveis e poluição do ar urbana”. Por esta razão, os pesquisadores pretendem estudar o que acontece com a saúde da população quando a troca de combustíveis etanol/gasolina é feita.

Vale ressaltar que São Paulo tem a maior frota urbana de veículos Flex no mundo, e é possivel observar como a mudança da composição do combustível utilizado possui um impacto forte no que é emitido pelo escapamento, e consequentemente na qualidade do ar. O efeito de redução de emissão de nanoparticulas com utilização de biocombustível já foi observado em laboratório anteriormente, mas é a primeira quantificação deste efeito no mundo real, coloca Joel Ferreira de Brito, pesquisador da USP, também autor do trabalho.

“Esperamos que com estudos como este, incentive o monitoramento destas partículas ultrafinas que tem acesso direto aos alvéolos pulmonares, e fortes efeitos na saúde, diz Paulo Artaxo. Monitorar somente partículas maiores e gases pode não ser suficiente para proteger a saúde da população”, complementa Artaxo.

O estudo observou também que não houve alterações na concentração de partículas maiores, com concentrações regulamentadas atualmente, mas com menor efeito negativo na saúde. Estas partículas incluem o chamado particulado fino, com diâmetro menor que 2,5 mícron (PM2.5) e partículas menores que 10 mícron (PM10).

A pesquisa foi financiada pela FAPESP, através do projeto 2013/25058-1. O artigo “Reduced ultrafine particle levels in São Paulo’s atmosphere during shifts from gasoline to ethanol use” está disponível no site da revista Nature Communications.

Contato para informações: Prof. Paulo Artaxo – artaxo@if.usp.br

Data Publicação: 
segunda-feira, 31 Julho, 2017
Data de Término da Publicação da Notícia: 
quinta-feira, 31 Agosto, 2017

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