Doutorandos do HEPIC compartilham experiências da Escola Latino-Americana do CERN, na Costa Rica

Entre os dias 30 de abril e 13 de maio, os doutorandos do HEPIC Monalisa Melo e William Silva participaram da Escola Latino-Americana do CERN, na Costa Rica.



O evento teve a proposta de reunir alunos de diversas áreas de pesquisa do CERN por meio de uma experiência enriquecedora, criando  um espaço de troca entre  colegas de diferentes instituições e experimentos.



Durante as duas semanas de evento, os participantes puderam aprofundar seus conhecimentos em suas áreas de pesquisa e conhecer outros campos , participando de aulas e compartilhando experiências e seus trabalhos, discutindo as mais diversas temáticas.

Imagem: Monalisa Melo apresentando seu projeto durante o evento 



Monalisa Melo é embaixadora do ALICE Júnior no Brasil, aluna de doutorado no HEPIC sob orientação do professor Marcelo Munhoz e Willian Silva, doutorando do HEPIC, aluno sob orientação do professor Tiago Fiorini da Silva. Em entrevista concedida à comunicação do HEPIC, os alunos ressaltaram a importância do evento pelas conexões que vão além das profissionais, podendo criar laços de amizade com colegas do mundo todo.



Dentre as atividades propostas, ocorreram aulas de diversos tópicos Willian afirma que as aulas foram muito benéficas para introduzir tópicos teóricos para quem trabalha com áreas mais experimentais. “A escola teve vários tópicos que são muito importantes para meu projeto, principalmente a teoria física por trás do que eu faço. Porque nós focamos bastante na parte experimental , então, às vezes, nós acabamos deixando algum conteúdo teórico para depois e acabamos não vendo os detalhes, então essas aulas foram importantes nesse sentido”, relata Monalisa. 

Um diferencial do evento foram as discussões em grupo, que aconteciam ao final de todos os dias. Cada grupo ficava responsável por discutir um dos temas apresentados durante o dia e um professor auxiliava tirando dúvidas dos alunos. “A experiência foi muito intensa , porém muito produtiva, com diversos conteúdos no mesmo dia, durante todas as duas semanas de evento”, diz Willian.



O projeto de doutorado de Monalisa aborda uma temática nova: existem poucas pessoas no mundo que pesquisam isso, tanto no CERN quanto em instituições da Europa e dos EUA. A aluna trabalha com a análise de jatos que possuem o méson Ds*, que são objetos interessantes para entender a dinâmica conjunta de quarks strange e charm no Plasma de Quarks-Glúons. Portanto o acesso a outros pesquisadores que trabalham na área é interessante para poder trocar ideias sobre o que está sendo feito no mundo: “eu pude ter contato com um professor que estuda algo parecido, embora eu seja do ALICE e ele, do CMS” .



*O méson D-s ou strange D méson, é um tipo de méson carregado positivamente e uma das partículas mais leves que contém quarks charm. Os mésons D são frequentemente estudados para entender melhor as interações fracas. 

 

Brasileiros presentes na Escola Latino-americana do CERN na Costa Rica

 

Willian está no segundo ano do doutorado e apresentou seu projeto, em que estuda sobre a degradação de detectores gasosos do tipo GEM (Gas Electron Multiplier) no experimento ALICE. Seu objetivo é entender os efeitos da degradação no funcionamento do experimento e propor soluções para minimizá-los. Ele destaca que a aplicação do seu trabalho não se restringe ao trabalho da colaboração “Para que sejam benéficos, não só para o ALICE como outros experimentos que utilizam o detector do tipo “GEM”, que vão passar muito tempo em funcionamento e consequentemente irão passar por esse processo de degradamento”.

 

Durante o evento, pode apresentar a estrutura experimental e análises que serão implementadas, recebendo sugestões e dicas de professores do mundo todo: “Este foi minha primeira Escola internacional e a experiência foi muito rica e engrandecedora”.

 

 

Imagem: Willian Silva apresentando seu projeto durante o evento

 

Este evento teve outro ponto especial que Monalisa e Willan destacam, que foi voltado para alunos de doutorado de países da América Latina. A expansão da física de altas energias na década de 1980 também foi sentida pelos países latino-americanos, que têm participado do desenvolvimento da área desde então. A atuação da América Latina no CERN é diversa, por meio de muitos trabalhos realizados em conjunto com o laboratório. Porém, a integração dos membros latino-americanos ainda possui dificuldades por diversos fatores, como o distanciamento físico e as diferenças culturais entre a América Latina e os países da Europa.



“Foi bem legal ter essa troca com outros alunos da América Latina, que possuem os mesmos problemas que a gente (...) e como eles enfrentam ou estão tentando enfrentar esses problemas. O principal deles é o isolamento, por exemplo”, diz Monalisa.



 

Foto oficial com os participantes da Escola Latino-americana do CERN na Costa Rica



Willian destaca: “Esses grandes laboratórios, como o CERN, têm se esforçado para minimizar, tanto quanto possível, essas diferenças gritantes entre a comunidade científica da Europa, dos Estados Unidos e os países da América Latina”.



Em março de 2024, o Brasil firmou essa relação de colaboração, tornando-se o primeiro Estado Membro do CERN em todas as Américas. O Chile está prestes a se tornar  outro Estado Membro Associado do CERN, após um acordo assinado ainda neste ano no dia 16 de maio de 2025 pelo Diretor-Geral do CERN e pelo Ministro da Ciência do Chile. Isso marca  um ponto-chave no estreitamento das relações entre as pesquisas realizadas nas instituições da América Latina. 



A experiência frutífera permite que os alunos possam explorar as diversas temáticas que estudam e refletir sobre o futuro da pesquisa latino-americana. Os laços entre os estudantes também ajudam a abranger o entendimento sobre outros trabalhos e novidades na área, como afirma Monalisa: “eu acho que conseguimos fazer uma grande rede de amigos… é bom saber o que está sendo feito relacionado ao que você trabalha e manter-se atualizado”.

 

Referências:

https://www.minciencia.gob.cl/noticias/ministra-aisen-etcheverry-firma-en-ginebra-el-acuerdo-de-admision-de-chile-como-estado-miembro-asociado-a-cern

https://alice-collaboration.web.cern.ch/node/36293

 

Por Kelly Matsui Mestranda em Divulgação Científica e Cultural pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Bacharel em Física pela Universidade de São Paulo. Bolsista em Jornalismo Científico pela FAPESP (2020/04867-2), sob orientação de Marcelo Munhoz.

 

 

 
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