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Docente e pesquisador do IFUSP completa 100 anos!

Professor Aposentado do IFUSP completa 100 anos!

Por: Prof. Nei F. Oliveira, Jr.

No próximo dia 8 de junho, um Professor Aposentado deste Instituto estará completando 100 anos de vida! Trata-se de acontecimento incomum (ou provavelmente mesmo inédito) que merece registro. O Professor é o Carlos José de Azevedo Quadros com quem, tenho certeza, muitos dos atuais docentes e servidores não conviveram ou mesmo conheceram. Vale, então, a oportunidade de lembrar quem foi e qual sua relevância para o Instituto.

O Prof. Quadros, como era conhecido, iniciou suas atividades na USP em 1960, contratado pelo Prof. Mario Schenberg para chefiar a instalação do primeiro Laboratório de Baixas Temperaturas (LBT) do Brasil. Na época, trabalhava na Universidade de Harvard e não foi sem alguma relutância que aceitou o convite, inicialmente para um período de dois a três anos. Acabou por permanecer, e em 1974 assumiu, por concurso, um cargo de Professor Titular. Em 1983 aposentou-se da USP.

O LBT era uma infraestrutura necessária para a pesquisa em Física de Estado Sólido, uma área de grande desenvolvimento na época e que daria origem ao que é hoje a Física da Matéria Condensada. Era a base científica para o desenvolvimento da novíssima Eletrônica de Semicondutores ou Eletrônica de Estado Sólido, que por sua vez prometia uma revolução tecnológica que, de fato, aconteceu! Era projeto do Prof. Schenberg, então Chefe do Departamento de Física da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras, estabelecer um grupo de pesquisa na área.

Em 1961 eu ingressei no grupo do novo laboratório e fui dos primeiros a trabalhar sob o Professor Quadros, primeiro como bolsista, e desde o início de 1964 como Instrutor. Desde então, desenvolvi minha carreira docente e de pesquisa sob a chefia direta do Professor, até sua aposentadoria. Assim, sou testemunha da sua importância na instalação, e posteriormente na consolidação de tudo aquilo que existe hoje em Baixas Temperaturas no Departamento de Física dos Materiais e Mecânica, FMT. É importante lembrar, por exemplo, que em 1964, com a prisão e afastamento forçado do Prof. Schenberg, o Prof. Quadros perdeu grande parte do suporte administrativo que o sustentava e do suporte financeiro que sustentava o laboratório. Perdeu também à mesma época a colaboração do Dr. Gerhard Salinger, físico americano que o ajudava no laboratório. Nesta época, foi a perseverança e capacidade de liderança do Prof. Quadros que manteve vivo o LBT e o seu programa de pesquisa. Seus esforços no sentido da contratação do Prof. Luiz Guimarães Ferreira acabaram por ter sucesso e deram ao grupo um importantíssimo suporte teórico.   

 Outra crise ocorreu no fim da década de 60 com a implantação da Universidade de Campinas que agregava esforços importantes na área de Física Aplicada. Por isso acabou por exercer forte atração sobre o pessoal do LBT chegando a causar o início de uma debandada. Foi novamente a liderança do Prof. Quadros que manteve o grupo experimental, e por consequência o LBT, em São Paulo. Este grupo, pequeno mas ativo, foi o núcleo inicial do Departamento de Física dos Materiais e Mecânica (FMT) instalado em 1970, com a reforma universitária, tendo o Prof. Quadros como seu primeiro chefe (1970 a 1974). Viria a chefiar novamente o Departamento entre 1975 e 1976.

Assim, não tenho dúvidas em afirmar e reconhecer que a existência do complexo de ensino e pesquisa que é hoje o FMT em muito se deve ao trabalho e liderança do Prof. Quadros nos anos 60 e 70.

Quanto à contribuição acadêmica, o ponto alto de sua carreira em São Paulo, sem dúvida foram os estudos magneto-térmicos em monocristais de semicondutores. A técnica, que consistia na observação das oscilações do calor específico em função do campo magnético, era pioneira e dava informações sobre a superfície de Fermi, inacessíveis pelos demais meios então existentes.

A tarefa de instalar em 1960, em São Paulo, um laboratório sofisticado, que na época (fim dos anos 50) representava o que de melhor existia em termos de infraestrutura para o estudo experimental de sólidos, não pode ser minimizada. O sucesso do Prof. Quadros em muito se deveu à sua maneira cordata, sempre afável, mas firme de chefiar e liderar. A competência e habilidade com que dirigia os trabalhos resultou em uma cultura de sempre fazer o mais bem feito possível, o melhor. Com isso, o LBT progrediu e continuou progredindo mesmo após sua aposentadoria. Em 2004, na última avaliação internacional do Departamento de que me recordo, a comissão liderada pelo Professor Daniel Kleppner do Massachusetts Institute of Technology, EUA, fez questão de colocar no relatório a frase “The low temperature laboratory is world class”. Sem dúvida, muito disso tem a ver com o início sólido e bem conduzido do LBT. Muito tem a ver e é consequência do trabalho do Prof. Quadros.

            Parabéns pelo seu aniversário, Prof. Quadros!!! São votos de todos os docentes e servidores do FMT.

 

Prof. Quadros  (foto da década de 70).

 

Término: 
09/06/2019

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