Colóquio do IFUSP é destaque no Jornal da USP

Em busca de outro lugar para habitar

Publicado por mabi.barros.s@gmail.com - Monday, 9 November 2015

Em palestra no Instituto de Física, o professor Jorge Melendez afirma que, no futuro, o avanço tecnológico permitirá a mudança da humanidade para fora da Terra, que então não terá condições adequadas para a sobrevivência da espécie

MARIA BEATRIZ BARROS

O professor Jorge Melendez, do IAG, em palestra no Instituto de Física: "A Terra tem um determinado tempo de vida". Foto: Cecília Bastos

Desde as primeiras civilizações, os seres humanos buscam o que há além da Terra. Hoje, aparatos tecnológicos como o telescópio Hubble e os Observatórios Europeus do Norte e do Sul promovem observações cada vez mais precisas do Universo. Esse avanço da tecnologia aplicado à busca por planetas habitáveis pela humanidade foi tema da palestra “À procura de uma Terra 2.0 e de um Sistema Solar 2.0”, ministrada pelo professor Jorge Melendez, do Departamento de Astronomia do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, no dia 29 de outubro passado, no Instituto de Física da USP.

“A Terra não vai ser assim para sempre. Ela tem um determinado tempo de vida”, afirmou o professor em sua palestra. “Atualmente, no quesito tecnológico, não seria factível que a humanidade mudasse de planeta, mas a tecnologia avança. No futuro, esperamos que tal situação seja factível. Em algum momento as condições na Terra não mais serão boas para a vida, então teremos que sair deste planeta.”

A busca por uma “Terra 2.0” passa pela descoberta de astros similares aos que viabilizaram a existência do nosso planeta, principalmente de uma estrela para orbitar. Ainda que seja encontrado um corpo celeste com características parecidas com as da Terra, para que haja a possibilidade de desenvolvimento da vida como conhecemos, é preciso que ele orbite uma “gêmea” do Sol, disse o professor.

Estima-se que a vida na Terra teve início 1 bilhão de anos após o nascimento do planeta e se desenvolveu ao longo de 3,5 bilhões de anos. Durante todo esse período, foi necessária a presença de atividade solar. Logo, tais condições seriam básicas para o surgimento de vida em outro lugar do Universo. A composição ou o tamanho de uma estrela diferente dos padrões do Sol também interferiria nas condições desse lugar, que poderiam não ser suficientes para oferecer tudo o que é necessário ao desenvolvimento da vida.

Em 2006, quase dez anos depois da descoberta da primeira gêmea solar, um grupo de estudantes da Escola de Astronomia e Astrofísica da Austrália, coordenado pelo professor Jorge Melendez, descobriu uma segunda estrela muito similar ao Sol. A HD 98618 possui a mesma idade, tamanho, temperatura e composição do astro que a Terra orbita. Isso alimentou as esperanças de encontrar uma Terra 2.0, lembrou o professor.

Foto: Cecília Bastos

Júpiter – A necessidade de uma estrela similar ao Sol para o desenvolvimento de formas de vida como a conhecemos é, no mínimo, presumível, disse Melendez. Mas o professor lembrou um outro fator fundamental para a formação da Terra – a existência do planeta Júpiter.

O planeta muito provavelmente funcionou como uma “barreira” para que os outros planetas gigantes (como são chamados Júpiter, Saturno, Urano e Netuno) não migrassem para o centro do Sistema Solar, onde ficam os planetas rochosos (Mercúrio, Venus, Terra e Marte). Ainda, o desenvolvimento de vida na Terra só foi possível graças à influência gravitacional de Júpiter exercida no Sistema Solar durante sua fase de formação.

Recentemente, outro grupo de pesquisa coordenado por Melendez liderou a descoberta de um novo planeta com massa semelhante à de Júpiter, por meio do telescópio de 3,6 metros do Observatório Europeu Sul, o ESO, localizado no Chile. O planeta orbita a gêmea-solar HIP 11915 e está na mesma distância relativa entre aquele gigante e o Sol. Baseado na importância do planeta para a formação da Terra e a sua influência no desenvolvimento de vida aqui, a possibilidade de a região em torno da estrela ser semelhante à do Sistema Solar é grande.

O professor encerrou sua palestra citando uma frase dita pelo cientista e divulgador da ciência norte-americano Carl Sagan (1934-1996), quando foi indagado sobre a existência de vida extraterrestre: “Se não existe vida fora da Terra, então o Universo é um grande desperdício de espaço”.

Fonte: Jornal da USP

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