Partículas de aerossóis liquidas sobre a floresta Amazônica

Partículas de aerossóis liquidas sobre a floresta Amazônica

Um estudo publicado hoje na revista Nature Geosciences mostra que as partículas de aerossóis naturais na Amazônia são líquidas, e que a poluição da cidade de Manaus altera a fase das partículas, tornando-as sólidas. Este resultado faz parte do experimento GoAmazon2014/15 que é uma colaboração internacional visando entender os efeitos da poluição urbana de Manaus na composição da atmosfera Amazônica.

Os pesquisadores descobriram que 80% do tempo as partículas de aerossóis em suspensão na atmosfera amazônica são líquidas. Esta descoberta foi surpreendente, pois nas florestas boreais na Finlândia, as partículas são sólidas. Quando as partículas interagem com a poluição de Manaus, a fração de partículas sólidas aumenta. O estudo foi realizado por uma grande equipe de pesquisadores da Universidade de São Paulo, Universidade de Harvard, INPA, UEA e outras instituições, e coordenado através do Programa LBA.

Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da USP e um dos coordenadores do experimento GoAmazon2014/15 explica que esta diferença na fase líquida das partículas muda a reatividade química, o crescimento de partículas, e o papel destas partículas como núcleos de condensação de nuvens. Os modelos climáticos que assumem que estas partículas são sólidas também terão que ser modificados. Scot Martin, químico de Harvard, coloca que a fase das partículas altera o seu efeito climático no controle do balanço de radiação atmosférico.  O estudo focou em partículas tão pequenas quanto 50 nanômetros, e que normalmente são produzidas pela oxidação de compostos orgânicos voláteis tais como isopreno e monoterpenos.

Estas partículas orgânicas servem com sementes para formação de nuvens na Amazônia sob condições limpas. As nuvens se formam e se desenvolvem de maneira diferente, dependendo se elas foram formadas por partículas líquidas ou sólidas. Artaxo coloca que a importância deste estudo está no fato de que as florestas boreais e tropicais se comportam de maneira muito diferente, pois na floresta boreal, a umidade relativa do ar é baixa (em torno de 30%), enquanto que na Amazônia a umidade é de cerca de 80%. Se as partículas são líquidas ou sólidas depende do bioma e que compostos voláteis as plantas estão emitindo.

Outra consequência importante deste estudo é que o crescimento de partículas de aerossóis depende se elas são líquidas ou sólidas. Se são sólidas, as condições favorecem a formação de novas partículas nanométricas, enquanto que se elas forem líquidas, elas podem continuar a crescer mais facilmente, atingindo tamanhos que as favorecem como núcleos de condensação de nuvens.  A população de grandes partículas líquidas tende a inibir a formação de novas partículas nanométricas e favorecem a formação de grandes gotas de chuva que precipitam mais eficientemente.

 Este estudo na Amazônia mostra que as propriedades atmosféricas são muito diversas e que os modelos climáticos têm que associar partículas líquidas ou sólidas em biomas diferentes. Isso afeta a maneira como os modelos climáticos tratam a formação e crescimento de partículas, e isso altera fortemente seu efeito no clima.

Trabalho publicado  na revista Nature Geoscience de 08/Dez/2015: doi: 10.1038/ngeo2599, Sub-micrometre particulate matter is primarily in liquid form over Amazon rainforest. Autores: Adam P. Bateman, Zhaoheng Gong, Pengfei Liu, Bruno Sato, Glauber Cirino, Yue Zhang, Paulo Artaxo, Allan K. Bertram, Antonio O. Manzi, Luciana V. Rizzo, Rodrigo A. F. Souza, Rahul A. Zaveri and Scot T. Martin.

Link da publicação:

Data Publicação: 
segunda-feira, 7 Dezembro, 2015
Data de Término da Publicação da Notícia: 
quinta-feira, 31 Dezembro, 2015

Desenvolvido por IFUSP