Instituto de Física estuda objetos de arte e descobre pinturas ocultas em telas

Mapeamento de imagens ocultas poderá ser usado como
 atestado de autenticidade à prova de falsificações

Obras de Cândido Portinari (1903 – 1962) e de Anita Malfatti (1889 – 1964) e uma parte da coleção de telas do mecenas Francisco Matarazzo Sobrinho, o Ciccillo (1898-1977), estão sendo analisadas com a ajuda de técnicas de infravermelho, raios X, luz rasante e radiografias por uma equipe do Instituto de Física da USP. O trabalho é coordenado pela professora Márcia Rizzutto, que já descobriu pinturas ocultas nas telas de Anita e de Oscar Pereira – as obras do artista estão na Pinacoteca do Estado de São Paulo.

“Uma das telas da coleção de Ciccillo, por exemplo, tem três pinturas. A primeira está na parte frontal, reconhecida como do artista pelo museu, e duas estão no verso da obra, aquela que não ficava exposta. Conseguimos identificar qual era o desenho por baixo da pintura do verso e também nos certificamos da autoria das três imagens”, conta Márcia.

Segundo a pesquisadora, o mapeamento dessas imagens e traços ocultos poderá ser usado como um atestado de autenticidade à prova de falsificações. “São traços e desenhos que o artista começou e possivelmente desistiu. Eles são inacabados e bem difíceis, improváveis de serem copiados”, diz.

          As técnicas utilizadas nas análises realizadas por Márcia Rizzutto não danificam a peça e evitam que ela seja transportada para um laboratório, já que muitos dos equipamentos são portáteis. Não é feita ainda a retirada de amostras para análise, o que não danifica a obra.

          Restauração – A metodologia usada pela pesquisadora permite auxiliar o processo de restauração de uma obra. Com a análise pode-se identificar os elementos químicos presentes nos pigmentos, e até mesmo qual a pigmentação usada na tinta da pintura original. As análises ainda permitem estudar as possíveis causas de degradação de um pigmento ou de um processo corrosivo. “Se o restaurador souber quais pigmentos foram usados, ele consegue restaurar a obra sem o risco de utilizar pigmentos com elementos químicos que podem não combinar com os materiais existentes e, assim, provocar manchas ou acelerar processos de degradação”, conta Márcia.

Apesar de bastante empregada em países da Europa e nos Estados Unidos, as técnicas usadas pela pesquisadora do Instituto de Física da USP ainda são muito incipientes no Brasil.

A professora Márcia Rizzutto está à frente do Núcleo de Apoio à Pesquisa de Física Aplicada ao Estudo do Patrimônio Artístico e Histórico (NAP-FAEPAH), do Instituto de Física da USP. Além de telas, o grupo desenvolve projetos de análises de fotogravuras do Museu Paulista e peças de metal, de cerâmica e vasos da coleção do MAE (Museu de Arqueologia e Etnologia da USP). Este núcleo de pesquisa envolve a parceria com os três museus da USP e com o Instituto de Estudos Brasileiros.

Data Publicação: 
sexta-feira, 29 Agosto, 2014
Data de Término da Publicação da Notícia: 
terça-feira, 30 Setembro, 2014

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