Quando a física é pura arte

Publicado por thiagocastro96@gmail.com - Monday, 14 September 2015

Desde 2007, uma equipe coordenada pelo professor Mikiya Muramatsu, do Instituto de Física da USP, vai pelas praças, parques e escolas públicas ensinando ciência para a população

LEILA KIYOMURA

Espreitar as cores do mundo em um caleidoscópio, transformar uma lata vazia em máquina fotográfica. Ou se encantar com os desafios ópticos, como ver um lápis se partindo na água. Com essas pequenas grandes experiências, o projeto Arte & Ciência no Parque vem surpreendendo os visitantes das praças e espaços públicos da cidade. Sob a coordenação do professor Mikiya Muramatsu, do Instituto de Física da USP, esse trabalho tem a participação de uma equipe integrada por estudantes. Desde 2007, o professor e seus alunos divulgam noções aparentemente complicadas da física, matemática, biologia, óptica e arte. E provam, com experimentos simples e lúdicos, que a ciência está no cotidiano.

“É muito gratificante ver o público interagindo. Crianças e adultos participam das atividades e passam a identificar a ciência e a tecnologia como parte de seu dia a dia”, conta Muramatsu. “Eu acredito que, assim, nós estamos contribuindo para a educação e a ampliação da cultura científica, proporcionando uma relação mais íntima especialmente das crianças e jovens com o conhecimento científico.”

Brincadeira ensina crianças sobre a luz: projeto surpreende visitantes nos espaços públicos da cidade Foto: Marcos Santos

 

Com esse projeto, o professor cumpre um desafio maior do que mostrar que o ensino da ciência da USP não tem fronteiras. “O nosso objetivo é contribuir para a melhoria do ensino de ciências nas escolas. Por essa razão, o projeto passou a visitar também as escolas públicas do ensino fundamental e médio. Nessa dinâmica, estimulamos a vocação científica de crianças e jovens. Vários alunos nos contam que decidiram pela Física da USP porque participaram do nosso projeto.” A expectativa de Muramatsu também é contribuir para a melhoria do nível de formação básica dos alunos de licenciatura e bacharelado, tanto em conteúdo de física como nas habilidades de comunicação e expressão.

O projeto Arte & Ciência, além das praças, parques e escolas públicas, vem sendo apresentado em feiras e congressos científicos. “Levamos cerca de 60 experimentos de física, biologia, astronomia e matemática.” O programa conta com a participação de graduandos e pós-graduandos e das professoras Cecil Chow Robillota, do Instituto de Física, e Maria Inês Nogueira, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP. Em outubro do ano passado, o professor idealizou a Virada Científica da Universidade e apresentou, na Praça do Relógio, várias barracas de experimentos.

O professor Muramatsu: "é gratificante ver o público interagindo" Foto: Cecília Bastos

 

Transformação – Paulista de São José do Rio Preto, Mikiya Muramatsu está no Instituto de Física desde 1970. Foi professor do ensino médio e atravessou, na USP, os “anos de chumbo” da ditadura militar. “Tenho 43 anos de docência aqui no instituto”, diz com orgulho. “Agora, digo que sou um caixeiro-viajante da ciência, levando os experimentos de uma escola para outra.”

Muramatsu retira de um grande baú alguns inventos e brinquedos que ele pesquisa e encontra em vários lugares do mundo, desde o reco-reco – descoberto em uma feira no Embu, em que adaptou o disco de Newton para mostrar as cores do arco-íris fundindo-se na cor branca – até a ideia de um holograma feito com uma caixa de CD que trouxe de Cuba. Interessante ainda o laboratório fotográfico portátil feito de caixa de papelão para revelar as fotos tiradas com máquinas fotográficas de lata.

Caleidoscópio: Instrumentos usados no projeto para divulgar o conhecimento científico Foto: marcos Santos

Os experimentos e o idealismo do projeto criado pelo professor despertaram a admiração do físico israelense Dan Shechtman, Prêmio Nobel de Química de 2011. Ambos participaram, há dois anos, do Encontro Nacional de Física da Matéria Condensada, em Águas de Lindoia (SP). Shechtman ficou impressionado com o trabalho de divulgação científica nas escolas. E observou que “a melhoria da educação e da sociedade se dá desde o jardim de infância, e toda ação que tem esse intuito contribui para que possamos superar os desafios de um mundo em transformação”.

Dan Shechtman também ficou impressionado ao ver os resultados do projeto, que já alcançou um público incontável. “Com certeza, muitos deles serão os futuros professores, físicos e cientistas.”

Escolas interessadas em receber o projeto  Arte & Ciência no Parque podem entrar em contato com o professor Mikiya Muramatsu pelo e-mail mmurat@if.usp.br.

Fontehttp://espaber.uspnet.usp.br/jorusp/?p=47880

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