Manifestação da Congregação do IF sobre o BNCC

"Manifestação da Congregação do IF sobre o BNCC"

"A ciência é feita de fatos, assim como uma casa é feita de pedras; mas um mero acúmulo de fatos não constitui uma ciência, assim como uma pilha de pedras não é uma casa". (Henri Poincaré, La Science et l'Hypothèse, 1902)

A Congregação do Instituto de Física da Universidade de São Paulo, reunida em sua 512a sessão ordinária, discutiu o documento divulgado pelo MEC para o estabelecimento de uma Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para a educação básica. Em assunto de tal importância e complexidade, diversas observações, ponderações e visões foram apresentadas. Ao mesmo tempo em que louvamos a importante iniciativa de formulação de um documento dessa natureza, para o enfrentamento educacional dos problemas do país, manifestamos várias preocupações em relação a seu formato atual.

Diversos problemas foram apontados. Dentre os de natureza mais geral, destacam-se o excesso de objetivos, por vezes contraditórios, e a falta de uma estrutura de progressão, impedindo uma sinalização clara das competências desejadas ao final de cada nível de escolaridade. Além disso, percebe-se uma falta de sintonia com a situação atual do ensino médio no Brasil, no que se refere ao excesso de disciplinas, persistindo indefinições quanto ao tempo e à ênfase a serem dedicados à formação científica.

No que diz respeito, mais especificamente, à nossa área, ou seja, em relação à componente curricular Física, a proposta é extensa, desarticulada e apresenta problemas conceituais relevantes, tanto no ensino médio como no fundamental. A abordagem da física na proposta da BNCC concentra-se na apresentação de fatos, ao invés de apresentar a construção das leis físicas conhecidas. Por exemplo, o estudo da mecânica inicia-se pela apresentação da conservação de energia e quantidade de movimento linear, não deixando claros os critérios dessa escolha, ou quais razões de começar com esses princípios, sem que os conceitos a que se referem tenham sido apresentados. Outra necessidade é a de diferenciar claramente modelos com base científica de outros tipos de modelos não científicos, para que não se incorra na ideia errônea de que são modelos equivalentes, como é o caso da apresentação de "modelos alternativos" para a origem do Universo.

É, portanto, entendimento dessa Congregação que o documento requer uma reformulação profunda e não meramente pontual. Nossa sugestão urgente é de que o cronograma de estabelecimento da BNCC seja alterado, permitindo o tempo e amadurecimento necessários a um empreendimento dessa envergadura. Seguindo o exemplo bem sucedido de outros países, sugerimos que a elaboração seja feita em ciclos de ensino, iniciando pelo Ensino Fundamental I e, de preferência, por áreas do conhecimento. Além disso, dentro de um cronograma mais longo e estabelecidos alguns parâmetros iniciais, sugerimos que a proposta para o Ensino de Física seja discutida, desenvolvida e redesenhada com uma participação mais ampla e significativa das universidades, sociedades científicas e academias de ciências.

(A apreciação do documento e manifestação dos membros ocorreram na 512ª Sessão Ordinária da Congregação, no dia 25.02.16.) 

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