O que garante a contribuição da Universidade à Sociedade? | Carta-manifesto

 
Em sua seção de hoje, 27 de agosto de 2020, a Congregação do Instituto de Física cedeu apoio à carta-manifesto abaixo, assinada pelo Diretor do Instituto e mais 8 signatários, explicando a diferença entre superávit e reserva técnica financeira.
Confira o texto integral abaixo e veja também a repercussão divulgada no Jornal da USP.
 

O  que garante a contribuição da Universidade à Sociedade?

 

O confisco das reservas das Universidades Estaduais Paulistas e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) levará a consequências desastrosas para a sociedade brasileira. 

Nos últimos dez anos a arrecadação de impostos em São Paulo foi significativamente reduzida devido a flutuações na economia. Na USP, houve um corte da ordem de R$ 940 milhões nos orçamentos planejados. Usando a sua autonomia financeira, a Universidade de São Paulo superou essas dificuldades com medidas duras de contenção dos gastos. Após oito anos, em janeiro de 2020 a USP finalmente atingiu o equilíbrio. O custo foi que, durante este período, houve muito pouco investimento em infraestrutura. 

Ao propor o Projeto de Lei 529, no artigo 14, o governo estadual ameaça retirar a autonomia da universidade através do recolhimento do valor economizado para ações que teriam impacto na educação, pesquisa e atendimento a necessidades da sociedade. Se for aprovado, não haverá qualquer garantia que valores recolhidos sejam devolvidos no ano seguinte. Com isto, a universidade perde a sua autonomia de planejamento, dado que o sucesso dos investimentos em educação, ciência e tecnologia são realizados na escala de tempo de vários anos e não numa base anual. 

Além do impacto sobre as universidades, o PL 529 também afeta a FAPESP. Como os compromissos com projetos apoiados pela Fundação têm prazo de até cinco anos, o recolhimento do saldo positivo no fim do ano afetaria drasticamente diversos projetos científicos se não estiver disponível nos anos seguintes. O impacto disto seria desastroso para as universidades paulistas, uma vez que grande parte da pesquisa nas universidades depende da FAPESP. 

As universidades paulistas prestam um serviço fundamental à sociedade, não só no estado de São Paulo, mas em todo o Brasil. A USP, sendo a principal universidade da América Latina, forma um enorme contingente de alunos altamente qualificados que atuarão na saúde, indústria, no governo e nos serviços, além de produzir os líderes e empreendedores que garantem a pujança do estado de São Paulo e projetam o Brasil no cenário internacional. Esses profissionais têm esta capacitação porque estudam em um ambiente em que há pesquisa, discussão, criatividade e liberdade intelectual. Este foi o grande objetivo dos criadores da USP, fundada em 1934, e que deve permanecer no espírito de todos os responsáveis pela condução desta exemplar instituição. 

Sem autonomia financeira, é impossível ter autonomia intelectual e sem esta última é impossível formar agentes transformadores da sociedade. 

 
Caetano Juliani 
Diretor do Instituto de Geociências
 
Luis Carlos de Souza Ferreira 
Diretor do Instituto de Ciências Biomédicas 
 
Elisabete de Santis Braga da Graça Saraiva 
Diretora do Instituto Oceanográfico 
 
Manfredo Harri Tabacniks 
Diretor do Instituto de Física 
 
Janina Onuki 
Diretora do Instituto de Relações Internacionais
 
Marcos Buckeridge 
Diretor do Instituto de Biociências
 
Júnior Barrera 
Diretor do Instituto de Matemática e Estatística
 
Pedro Leite da Silva Dias 
Diretor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas 
 
Fabio Frezatti 
Diretor da Faculdade de Economia e Administração

 

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