Falecimento do Prof. Luiz Guimarães Ferreira | Pelo Prof. Nei F. Oliveira Jr.

Hoje, 15 de novembro de 2021, recebi a triste notícia do falecimento do Professor Luiz Guimarães Ferreira.  Eu tenho escrito sobre o Prof. Quadros (ainda vivo, 102 anos e bem!), o Paulinho, o Balbachan, todos importantes no desenvolvimento inicial do Laboratório de Baixas Temperaturas. Assim, não posso deixar de escrever sobre o Prof. Guimarães, o “Guima” para muitos. Foi o grande esteio científico do grupo no início. 

Por: Prof. Nei F. Oliveira Jr.


Conheci o Guima superficialmente em 1954, no Colégio Santo Inácio do Rio de Janeiro, onde ambos estudamos. Ele fora agraciado com o prêmio de “Excelência”, o mais importante prêmio do colégio, para o melhor aluno em todo o curso (7 anos – Ginásio e Científico).  Estive em sua festa de formatura e entrega do prêmio, e participei tocando um número de piano. Depois viríamos nos encontrar novamente apenas em 1965, quando o Quadros o convidou, e ele aceitou, vir trabalhar na USP vindo do ITA.
 
Em São Paulo, assumiu de pronto o encargo de orientar vários estudantes do Grupo de Estado Sólido que estavam sem orientador, eu inclusive. Eu já tinha todo um volume de dados experimentais e o Guimarães foi importante na interpretação. Defendi já no ano seguinte. Havia três estudantes de Minas Gerais que o Guima “encampou”, herança do Prof. Newton Bernardes, e todos se formaram e desenvolveram carreiras na Universidade Federal de Minas Gerais. Pegou também estudantes novos, como o José Roberto Leite, de carreira muito importante na USP (e no Brasil) na pesquisa de Semicondutores. Ajudou muito o Quadros na montagem de uma carreira em Física na USP (doutoramento, livre docência, adjunto e titular). Em resumo, atacou em todas as frentes e resolveu todas. Chegou, posteriormente, a Diretor do IFUSP nos anos 80 e pouco depois se aposentou da USP, indo então trabalhar na UNICAMP onde terminou sua carreira.
 
O Quadros já conhecia bem o Guimarães quando o convidou. Havia já entre eles uma grande amizade, estreitada quando foram contemporâneos nos Estados Unidos, o Quadros trabalhando em Harvard e o Guimarães fazendo doutoramento no MIT. Sabendo da insatisfação do Guima no ITA, não teve dúvidas em trazê-lo para a USP. Completou-se então o tripé que tornou possível a existência e o crescimento da pesquisa em Estado Sólido, depois Matéria condensada, no IFUSP: - inicialmente o Prof. Mario Schemberg com a idealização, a arregimentação de estudantes, a contratação do pessoal inicial e, não menos importante, a obtenção junto ao governo federal das verbas necessárias, inclusive para a montagem de um laboratório de baixas temperaturas; - o Prof. Quadros, contratado para chefiar a montagem e colocação em funcionamento do laboratório e que foi a âncora do grupo até os anos 80; - e depois a contratação do Prof. Guimarães que deu vida à parte científica do grupo, cumprindo aquela que era a meta mais importante de todo o projeto, a pesquisa em semicondutores.
Ficamos amigos de imediato e tempos depois nos afastamos. Não posso, porém, deixar de manifestar aqui a grande admiração que sempre tive, e tenho,  pela sua inteligência brilhante e sua capacidade e competência como físico. Como professor, deixa o legado de estudantes que praticamente iniciaram e espalharam pelo país o estudo e a pesquisa em semicondutores. Como pessoa, amealhou muitos e grandes amigos que agora certamente se entristecem pela perda.
 

Foto: Arquivo IFUSP

 

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