Por: Sergio Giardino, Depto de Matemática Pura e Aplicada (UFRGS)
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No último dia 31 de outubro, a comunidade física brasileira perdeu o professor Victor Rivelles, um dos primeiros especialistas em teoria de cordas no país, mas também um dos pioneiros em áreas como a teoria de campos não-comutativa. Além disso, também incentivou a introdução de áreas externas à sua especialidade, como as modernas teorias de integrabilidade, e o fez agregando pósdoutorandos em seu grupo de pesquisa.
A sua atitude aberta também se manifestava no seu comportamento não-hierárquico com os alunos, e só posso atribuir a esta mentalidade a aceitação de um bacharel em química como eu para a pós-graduação em física teórica. Não tenho como negar que minha dívida com o professor Rivelles é praticamente impagável, e afirmo isso lembrando que esta atitude é cada vez mais improvável no atual cenário da física, onde se afirma a figura do cientista-empreendedor, guiado por valores estranhos à ciência, como a aversão ao risco típica dos mercados financeiros, o colaboracionismo sem critérios, o produtivismo metrificado, e o competitivismo que sufoca a criatividade.
Curiosamente, a personalidade discreta do professor Rivelles não permitia a visualização clara desta característica marcante. Não era homem do sorriso fácil, da conversa despretensiosa, da informalidade, do calor humano, e nem da política. Antes, era pessoa do trabalho, da seriedade, da pontualidade, do trato profissional, e da formalidade.
A lacuna aberta pela sua passagem inesperada e precoce não será facilmente preenchida. Não pela ausência de especialistas, mas pela infeliz raridade que os valores que cultivava estão adquirindo.
Neste momento de luto, que sua memória sirva como um exemplo de resistência ao imediatismo que envenena nossos ambientes acadêmicos, enquanto ele ainda pode ser revertido.