BIFUSP Entrevista Novos Docentes | Conversa com Lucas Cornetta (FGE)

Vivendo um momento auspicioso em sua área de pesquisa, o pesquisador compartilha sua jornada até a docência e revela que a possibilidade de atuação em sala de aula foi um diferencial da USP em relação a outras oportunidades.

Completando um ano como docente no Departamento de Física Geral, o pesquisador Lucas Cornetta recorda seus tempos de graduação no IFUSP: “Eu demorei um pouco pra me engajar no trabalho de pesquisa aqui, na época que eu era aluno de graduação”. Como muitos estudantes, Lucas trabalhou durante parte do curso e nem sempre pôde se dedicar à física tanto quanto gostaria. Foi apenas ao final do terceiro ano que obteve uma estrutura que lhe permitiu maior dedicação aos estudos e presença na universidade, quando seu compromisso e empenho mudaram de nível. Mesmo assim, àquela altura, não conseguiu se vincular a um projeto de iniciação científica. “Oficialmente, eu não tive uma bolsa de iniciação científica, mas logo que eu estava no começo do último ano eu conheci o Márcio, e ele foi uma pessoa muito importante em vários aspectos - de estar aberto, de gostar muito do que estava fazendo e de passar aquele entusiasmo pela pesquisa. Aos poucos, eu fui considerando a área da física molecular e fui aprendendo”. Atual colega de departamento, o pesquisador Márcio Varella foi seu orientador no mestrado e também no doutorado, que Lucas realizou em modalidade sanduíche na Stanford University, com coorientação de Todd J. Martinez, do Departamento de Química Teórica.

A conclusão do doutoramento trouxe algumas provações, como a incerteza sobre que caminho seguir. Entre a defesa da tese e a confirmação da bolsa de pós-doc, foram dez meses em suspenso, também agravados pela tensão da pandemia de COVID-19. “Em 2020 eu conheci esse grupo da Unicamp, que estava com um grande projeto temático FAPESP vigente. É um grupo majoritariamente experimental, que não tinha muito a ver com o que eu fazia na pós-graduação. Era uma outra coisa, uma outra área - a de espectroscopia molecular na faixa de Raios-X, que é o que eu faço hoje”. Se o contexto foi determinante para a troca de área, a permanência e a dedicação foram inteiramente deliberados: o pesquisador considera a mudança uma das melhores coisas de sua carreira. Como há curvas de aprendizado, ele descreve o que seria uma “curva de afeição” à nova atividade, e revela que se apaixonou definitivamente pela área. Com satisfação e envolvimento renovados, veio o trabalho e o acelerado desenvolvimento: “Eu acabei me descobrindo com uma habilidade, uma visão que talvez fosse diferente da que eu tinha antes. E rapidamente consegui contribuir de um jeito que me realizava como pesquisador”. Ainda sobre o processo de mudança, Cornetta reflete: “Percebi que acabei me envolvendo com uma linha de pesquisa que havia um espaço para desenvolver aqui no IFUSP. E isso foi muito atrativo, porque eu sempre tive planos de tentar uma posição permanente aqui. Sob essa perspectiva, estar envolvido com uma área de estudo que eu sabia que tinha pouca gente fazendo, que era uma pesquisa de ponta para a qual havia uma demanda, além do fato de que eu traria pra cá várias novas redes de colaborações, foi bastante motivador. E tudo isso foi crescendo.” No começo de 2022, Lucas foi para a Suécia como pós-doutorando e teve seu período mais produtivo até então. E o timing foi ideal: foi enquanto capitalizava o bom trabalho e o bom momento do campo de pesquisa que recebeu a notícia da abertura do concurso.“O projeto é algo que me representa e que faz sentido pro Instituto, e eu acho que casou de um jeito providencial” - conclui.

O pesquisador contextualiza o ótimo momento vivido em sua área de pesquisa: “Há quem diga que o advento de certas instalações e tecnologias ao longo da última década, como os síncrotrons de quarta geração (como o Sirius) e outros tipos de máquinas como os Free Electron Lasers [...] Essas máquinas são fontes de luz em diversas faixas de frequências, incluindo, particularmente, linhas dedicadas a raios-X. Só que elas chegaram com intensidade e poder de resolução tão altos, que vários projetos que, no passado, ficaram inviabilizados por falta de tecnologia experimental, hoje podem ser revisitados por conta desse advento. E é por isso que há quem diga, como provocação, que a comunidade passa por um período de renascença da espectroscopia de raios-X”.

Como teórico em modelagem molecular, sua atuação se dá em duas grandes frentes: a primeira é uma frente teórico-experimental, em que realiza cálculos de mecânica quântica e provê suporte teórico para explicar espectros medidos em experimentos. Nesse âmbito, atua em colaboração próxima com uma série de grupos experimentais - como o DFA do IFGW/Unicamp; a Division of X-Ray and Photon Sciences da Universidade de Uppsala, Suécia, atualmente liderada pelo pesquisador Olle Björneholm; o grupo do Prof. Raimund Feifel, na Universidade de Gotemburgo, também na Suécia, entre outros. A segunda frente é o desenvolvimento de metodologias, em que o pesquisador não se refere a dados experimentais, mas a técnicas em que haja espaço para contribuições do ponto de vista de desenvolvimento teórico e implementações computacionais.

Uma terceira frente de trabalho que o interessa é o desenvolvimento de ferramentas didáticas. Atualmente oferecendo a disciplina de Eletromagnetismo na graduação, o pesquisador coordena um projeto PUB que visa desenvolver animações para uso didático. O conjunto de códigos e materiais gerados neste projeto será integralmente disponibilizado a todos os interessados. Essa frente de atuação vem revelar e encaminhar um interesse antigo do pesquisador: “Dar aula é uma coisa que sempre me motivou. Eu sempre gostei muito [...] Essa ideia de que eu ia ser um pesquisador e também dar aula fazia as posições aqui na USP muito mais atrativas do que em outros lugares onde eu não teria a oportunidade de lecionar”.

Animado e acessível, com metas bem estabelecidas para curto e médio prazo, o docente afirma que há muito trabalho a ser feito na área e faz um chamado a estudantes interessados de todos os níveis - iniciação, mestrado, doutorado: apresentem-se. Há diversas oportunidades e a área é prolífica e promissora para quem está começando uma trajetória em pesquisa. O professor compartilha também um conselho, a partir de sua própria experiência: encoraja os alunos a se manterem abertos às oportunidades e a experimentarem áreas nunca antes consideradas, pois há um universo de tópicos estimulantes e produtivos em busca de pessoas. “Eu me permiti olhar para outras áreas; olhar para biofísica, para física experimental, para física de materiais… tem muita coisa legal sendo feita em tanto lugar! Foi um processo de autoconvencimento [...]: E no fim foi uma coisa muito positiva. Talvez, se eu não tivesse me forçado, não teria me apaixonado pelas áreas que me apaixonei. Muitos alunos persistem numa idealização de algo que, às vezes, nem existe, e impede que se olhem para outras coisas. Isso é prejudicial, e acho que a ciência só tem a perder”.

-> Para saber mais sobre o trabalho do professor e oportunidades disponíveis, escreva para cornetta@if.usp.br


Imagem: Lucas Cornetta em sua sala no IFUSP. Foto de Malu Tippi/IFUSP.
 

 

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