Relato do pesquisador Mauro Cattani.
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Gosto de recordar, escrever, falar, sobre alguns eventos que considero muito interessantes na minha carreira como Professor e Pesquisador do IFUSP. Faço um breve histórico de dois desses eventos, sem esmiuçar muito os mesmos, para não ser maçante para os leitores.
Aos 17 anos, em 1959, entrei no curso de Física da FFCLUSP e me graduei como bacharel em 1963.
Recém-formado, fui contratado em março de 1964 como assistente do Professor Cesar Lattes na Cadeira de Física Superior na FFCLUSP. Comecei a fazer pesquisas em Raios Cósmicos e em traços fósseis de fissão de urânio em micas, ou seja, em Geocronologia.
Em 1965, eu e mais alguns colegas do IF fomos convidados pela Universidade da Bahia para criar um Grupo de Geofísica em Salvador. Ele visava estimular a pesquisa de petróleo no recôncavo baiano e contaria com o apoio da Petrobrás e da Marinha. Fui para Salvador em junho de 1965; passei cerca de seis meses dando aulas de Física básica e realizando lá pesquisas em Geocronologia, indo e vindo para São Paulo. Contei nestas pesquisas com o apoio de minha esposa, Maria Luiza Mattos Cattani, que era microscopista no Grupo de Raios Cósmicos do IFUSP.
Nas vésperas de meu retorno para São Paulo (~ novembro de 1965) fui convidado pelo Reitor da Universidade da Bahia, Prof. Dr. Miguel Calmon, para redigir um projeto de pesquisas que seria apresentado ao Conselho Universitário para a criação de um Grupo de Geofísica. O projeto que apresentei foi aprovado em 1966 e o Grupo foi oficialmente criado.
Em janeiro de 1966 estava de volta em São Paulo; em novembro de 1966 fui para Pisa fazer meu doutoramento na Universidade de Pisa sob a orientação de professores do Instituto de Física e da Escola Normal de Pisa. Retornei para São Paulo em março de 1968 com tese de doutoramento para ser redigida. Neste mesmo ano tornei-me Doutor pela FFCLUSP.
Em 1969, antes de ser acionado o AI-5, fui aprovado em concurso, tornando-me Livre-Docente da Cátedra de Mecânica Racional, Celeste e Superior na qual era Catedrático o Prof. Mario Schenberg.
Em 1969, o Prof. Schenberg foi aposentado pelo AI-5. Até essa época, eram Instrutores da referida cátedra: A. L. Rocha Barros, Ney F. de Oliveira, Gita. K. Guinsburg, Hans. P. Heilman, Klaus S.Tausk, Milton Damato e Nelson L. Teixeira.
Além disso, o Prof. Schenberg era também responsável pela Cadeira de Física Teórica e Matemática, constituída pelos seguintes instrutores: Carmen. L. Braga, D. Redondo, Ney F. Oliveira, Normando C. Fernandes, Paulo S. de Toledo, Wanda V. M. Machado e Yogiro Hama.
Na ausência do catedrático, como era de praxe, os instrutores citados acima passariam a ser meus subordinados.
Felizmente para mim, essa responsabilidade terminou logo, pois em dezembro de 1969 foram aprovadas no Conselho Universitário da USP a extinção das Cátedras e a criação de Institutos. Os Institutos seriam formados por Departamentos.
A minha participação na criação dos departamentos foi, juntamente com o Prof. Dr. Luiz Guimarães Ferreira, a de formar o Departamento de Física dos Materiais (e Mecânica Racional, Celeste e Superior & Mecânica Quântica). O seu nome foi "abreviado" ficando, simplesmente, Física dos Materiais e Mecânica (DFMT). O Prof. Guimarães era representante do "Laboratório do Estado Sólido" ("Baixas Temperaturas") e de alguns teóricos ligados a ele. A minha função foi a de reunir alguns instrutores do Prof. Schenberg (de comum acordo com eles!) para formar o DFMT. A chefia do DFMT foi assumida pelo Prof. Guimarães.
O grupo de professores que ficaram no DFMT que estavam ligados ao Prof. Schenberg era pequeno. Lembro-me, por exemplo, de Normando C. Fernandes, Alberto L. da Rocha Barros, Djalma Redondo, Klaus Tausk, Claudio Z. Dib, Milton Damato, Wanda V. M. Machado e Junichi Osada. Não me lembro de que grupo de professores era proveniente o Prof. Osada.
O Prof. Normando sugeriu, para homenagear o Prof. Schenberg, que criássemos um curso de graduação de Astrofísica. Isso foi feito e ele começou a dar aulas sobre esse tema. Como muitos alunos ficaram motivados pelo assunto, propusemos a criação, dentro do DFMT, de um Grupo de Astrofísica.
Para fortalecer o grupo, convidamos o prof. Osada para participar. Ele era um excelente professor e pesquisador japonês. Ele tinha vindo para São Paulo, há vários anos atrás, para participar de uma colaboração Brasil - Japão. Inclusive, eu acho (não me lembro bem) que quando o convidamos para participar do grupo ele já havia dado ou estava dando aulas de Astrofísica na Pós-Graduação. Ele já havia ministrado vários cursos de Graduação e Pós-Graduação, tais como Mecânica Estatística, Física Matemática, Eletrodinâmica Quântica, Mecânica Quântica...
Neste período de transições o Prof. J. Goldemberg era o Diretor do IFUSP. Ele foi responsável pela criação e incentivo de pesquisas em muitas áreas, como Cristalografia, Mecânica Estatística, Plasmas, Biofísica, Física Médica... Ele ampliou muito o horizonte de pesquisas do IFUSP.
Ele colaborou também para a formação do nosso Grupo de Astrofísica designando uma secretária para mim, a Srª. Dayse D. Calió. A sua sala (e máquina elétrica da IBM) ficava no fim do corredor à esquerda do prédio Alessandro Volta. Nessa sala, eu o Prof. Normando havíamos criado uma pequena biblioteca. Nela, colocamos muitos livros pessoais do Prof. Schenberg e todos os livros do antigo Departamento de Física, que estavam no último andar do prédio da FFCLUSP na rua Maria Antônia. Desse modo, com o "reconhecimento" do IFUSP, através da atitude do seu Diretor, estava oficialmente criado o Grupo de Astrofísica.
Por uma questão de "respeito e hierarquia científica", eu o Prof. Normando concordamos que, para efeitos burocráticos junto ao IFUSP, Reitoria, FAPESP, CNPq, etc. o Prof. Osada seria o "chefe" do Grupo.
Entre 1968 e 1972 foram ministrados no IFUSP cursos de Graduação e Pós-Graduação em Astrofísica. Publicamos artigos sobre o efeito da matéria superdensa em núcleos de estrelas de nêutrons.
Em 1973, com a chegada da França de um especialista em Astrofísica, o Prof. Dr. José Antonio de F. Pacheco, o nosso grupo (de amadores) em Astrofísica "fechou as portas". Ele foi transferido definitivamente para o IAG-USP.