Trabalho dos autores Arianny Storari, Gabriel Osés, Arnold Staniczek, Marcia Rizzutto, Ronny Loeffler, e Taissa Rodrigues.
Publicado em Frontiers in Ecology and Evolution
Contextualização e comentários de Arianny Storari e Gabriel Osés.
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Um novo estudo publicado na revista "Frontiers in Ecology and Evolution" forneceu informações importantes sobre a preservação única de fósseis insetos da Formação do Crato (Cretáceo Inferior, Brasil), um depósito paleontológico de renome mundial. A investigação, liderada por pesquisadores da Universidade Federal do Espírito Santo com a colaboração de cientistas da Universidade de São Paulo, do Museu Estadual de História Natural de Stuttgart e da Universidade de Tübingen, investigou a forma como os insetos aquáticos e terrestres foram preservados neste depósito ao longo de milhões de anos.
Ao analisar mais de 230 espécimes fósseis utilizando técnicas avançadas como a microscopia eletrônica de varredura, a fluorescência de raios X (XRF) e a espectroscopia Raman, o time de cientistas descobriu detalhes microscópicos sobre os processos que levaram ao estado excepcional dos fósseis do Crato. As medidas de XRF foram realizadas no Laboratorio de Arqueometria e Ciências Aplicadas ao Patrimônio Cultural (IFUSP), em colaboração com o pesquisador colaborador Gabriel Ladeira Osés e com a Profa. Marcia Rizzutto. As descobertas mostram que eles foram preservados detalhadamente devido à substituição dos seus tecidos biológicos por óxidos de ferro após uma fase inicial de piritização, um processo ocasionado por reações químicas entre os organismos e o seu ambiente durante a fossilização. O estudo também corroborou evidências anteriores de que esteiras microbianas desempenharam um papel na preservação fina de microestruturas nestes fósseis.
Para comparação, os cientistas examinaram também fósseis de insetos fossilizados do depósito de Solnhofen (Jurássico Superior, Alemanha), também conhecido mundialmente por seu valor paleontológico. Mas, enquanto os fósseis brasileiros mantiveram fielmente várias caraterísticas microscópicas, os espécimes alemães foram considerados mal preservados, sendo muitas vezes preservados apenas como impressões, devido ao crescimento de minerais grosseiros. “As nossas descobertas sugerem que, embora os paleoambientes destes dois locais tenham algumas semelhanças, a preservação dos insetos, particularmente das efêmeras, na Formação do Crato é muito superior ao que vemos em Solnhofen”, explica Arianny Storari, egressa do Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas da UFES e líder do estudo. “Esta pesquisa não só lança luz sobre a forma como estes insetos passaram pelo processo de fossilização, como também permite uma melhor compreensão dos diferentes fatores ambientais e químicos que contribuem para a preservação dos fósseis.” O estudo abre as portas para pesquisas futuras sobre processos de fossilização e oferece informações importantes sobre as condições que podem levar à preservação extraordinária da vida pretérita.
Projetos FAPESP envolvidos: Processos FAPESP n° 2021/07007-7, 2023/14250-0 e 2022/06485-5.
-> Acesse o artigo “Paleometric approaches reveal striking differences in the insect fossilization of two Mesozoic Konservat-Lagerstätten"