Prof. Dr. Neilo Trindade, do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IFUSP), é um jovem doutor de 39 anos, declarado negro, que recentemente recebeu o Prêmio Anselmo Salles Paschoa – 2024, da Sociedade Brasileira de Física. Esse prêmio busca valorizar e dar visibilidade a pessoas negras que realizam pesquisa de excelência nas diferentes áreas da Física.
Natural de Taquarituba, no interior de São Paulo, Neilo enfrentou desafios significativos desde cedo, sendo criado por uma mãe solteira. Determinado a escapar da pobreza, destacou-se nas disciplinas de exatas nas escolas públicas e ingressou no curso de Licenciatura em Física na UNESP, campus Bauru, motivado por sua paixão pela física e a demanda por professores na área. Durante a graduação, participou de pesquisas sob orientação da Profa. Dra. Rosa M. F. Scalvi.
No mestrado, no Programa de Ciência e Tecnologia dos Materiais (POSMAT) da UNESP/Bauru, Neilo investigou propriedades ópticas e elétricas de alexandrita e foi representante discente no Conselho do POSMAT. No doutorado, focou em semicondutores, especificamente em ZnO e ZnO:Al, sob a orientação do Prof. Dr. José Roberto Ribeiro Bortoleto, concluído em 2015. Realizou dois pós-doutoramentos: o primeiro no IFUSP, supervisionado pela Profa. Dra. Elisabeth Mateus Yoshimura, com foco em materiais dosimétricos; e o segundo na Clemson University (EUA), sob a supervisão do Prof. Dr. Luiz G. Jacobsohn, trabalhando com detectores naturais e sintéticos.
Profissionalmente, durante seu mestrado, Neilo iniciou sua carreira docente no ensino superior, lecionando na UNESP/Bauru. Também atuou como professor efetivo de Física no ensino médio estadual e em faculdades particulares, onde exerceu diversas funções, incluindo coordenador de curso e diretor de faculdade. Foi professor substituto de Física na UFSCar e na UNESP/Sorocaba. Em 2016, tornou-se professor no Instituto Federal de São Paulo (IFSP), onde permaneceu até 2022, quando foi aprovado como professor no Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP), consolidando sua carreira em uma instituição renomada.
Em suas pesquisas, Neilo dedica-se ao estudo de materiais dosimétricos, naturais e sintéticos, importantes na determinação precisa da dose de irradiação em diversos contextos, incluindo aplicações médicas e tecnológicas. Utilizando técnicas de luminescência, especialmente Termoluminescência (TL) e Luminescência Opticamente Estimulada (OSL), seus projetos abrangem o estudo de minerais brasileiros e a síntese de detectores cerâmicos para dosimetria das radiações. Ele também desenvolve e caracteriza pastilhas que combinam minerais com polímeros fluorados, criando detectores de radiação finos, flexíveis e resistentes. Recentemente, tem caracterizado minerais simulantes aos encontrados na Lua e em Marte; e implantou um Laboratório de Sínteses e Desenvolvimento de Detectores, bloco F (prédio da Dosimetria).
Neilo Trindade tem orientado muitos jovens, incluindo negros e negras, incentivando-os a seguir carreiras científicas. Apesar de jovem doutor, Neilo apresenta alguns números que impressionam, com mais de 30 artigos científicos, mais de 100 resumos publicados, dezenas de premiações de alunos, mais de 30 apresentações em congressos, e 4 orientações de mestrado concluídas. Neilo também tem coordenado projetos financiados por agências como Fapesp e CNPq; é Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq - Nível 2 e Avaliador do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais.
Dada a trajetória de Neilo Trindade, desde a escola pública em uma área periférica até se tornar docente no Instituto de Física da USP, ele se destacou como um candidato altamente digno ao Prêmio Anselmo Salles Paschoa, promovido pela Sociedade Brasileira de Física. Sua indicação foi feita pela Profa. Dra. Susana Lalic (UFS-IPEN), com cartas de recomendação da Profa. Dra. Roseli Kunzel (UNIFESP), Prof. Dr. Ronaldo Silva (UFS), e Prof. Dr. Luiz Jacobsohn (Clemson University – EUA), que também foi aluno do Prof. Anselmo Salles Paschoa.
* Atualmente, segundo o Anuário Estatístico da USP, dentre os 5151 professores da USP, apenas 121 se autodeclaram negros. No Instituto de Física, dos 115 professores, apenas 6 se autodeclaram negros.